sábado, 20 de junho de 2015

O mar em nós

 Medalha de Ouro e Diploma conferidos à mina escultura,
"O mar em nós", exposta no 48º Salão de Maio/2015,
na Sociedade Brasileira de Belas Artes (SBBA).

O mar em nós

 

Lambendo areias

Sob a quadratura dos astros

Sou franjas de mar revolto

Águas inquietas de baixa-mares e preamares

Marés irrequietas de forças afoitas

Maresias que o vento açoita



Na praia de sol a pino

Sou reflexos miragens no horizonte nu

Nas vagas que vão e voltam

Sou o espraiar das ondas que apagam os rastros

Dos meus próprios pés descalços



Nas espumas de prata

Leves e soltas enfeitando crinas

Sou o sopro agreste de lembranças incautas

A esculpir cimos de costas



Corroído pela erosão da força dos mares

Elevo-me nas falésias que se inclinam

À deriva em leito lasso

Sou a fragata que cruza os ares



Sobre berço esplêndido encobrindo abissos

Divago na calmaria de pensamentos

Sofrendo bandas ou caturradas ao sabor das vagas

Sou o encouraçado que jamais naufraga



Para enfrentar os maus presságios

Sou a carranca de proa

Navegando por tempestades de mares profundos

Sou o tridente em riste na mão do deus Netuno



Sou o astrolábio...

Minha própria estrela guia!

Sou a bússola...

A agulha magnética e o norte

Minha própria sorte!



A tábua de sustentação

Não se quebre...

Ao porto seguro leve-me leve

Sou o náufrago que sonha

O mar que há em nós




Fotos e Texto: By AMALRI  NASCIMENTO.






terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Viagem nórdica

*Representação de Asgard

 Viagem nórdica

Madrugadas há em que nos céus
Produzem-se estranhas e radiantes luzes!
Auroras boreais cintilam
Elmos, escudos e lanças
de emplumadas virgens guerreiras.
 
Centúrias de Valquírias mensageiras de Alfadur
galopam montando corcéis alados,
a procura de heróis vikings abatidos
em campos de batalha,
cumprem realizar o desejo de “Todo Pai”.
 
Dourados raios neblinados se alevantam
porquanto Máni induz a lua inibir seu prateado.
Sob a guarda de Heimdall,
o Bifrost se estende iridescente e descerra
o caminho que conduz à Asgard.
 
De Midgard, domínios de Jord,
sonho atravessar a ponte e habitar o Valhala!
Convidado de Odin,
Banqueteio-me do javali Schrinnir,
matando a sede com fartura de hidromel.
 
Dos ombros do que se assenta ao trono,
grasnam os corvos Hugin e Munin,
e a seus pés rosnam Geri e Freki.
Alheio, empunhando com firmeza a Gungnir,

o deus maior e anfitrião Odin
se compraz à presença dos convivas...

Acompanhado de perto por Iduna,
que distribui maçãs do pomar sagrado
e garante a restauração da juventude aos Aesir,
Bragi recita o Edda em versos.
A espreitá-los com folguedos traiçoeiros,
Loki se diverte maquinando seus enredos...

Súbitos relâmpagos e trovões
rasgam o silente pálio da noite que me abraça.
Farpas do visco que matou Balder
perfuram-me os olhos cerrados
e tiram-me da imersão do REM de vívidos sonhos...

Tendo as forças minadas não posso suportar
o peso do martelo Mjölnir,
deixado cair por Thor sobre meu peito,
sinto despertar afundando ao leito.
Preso apenas às raízes de Yggdrasil,
mergulho no abisso das obscuras névoas de Niflheim.

Rogo a Frigga interceder a Jord,
esta junto a Hela,
que tenha complacência
e a mim destine clemência,
livrando-me o jugo da convivência de seus companheiros,
a Fome, a Inanição, o Atraso, a Vagareza, o Precipício e o Sofrimento.


*Diante do trono: Odin; ao centro, de costas: Thor; a esquerda: Loki e Friga

P.S.: As imagens acima foram carregadas da web, caso hajam direitos autorais atreladas às suas divulgações, por favor, deixem um comentário solicitando suas retiradas e assim o farei.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Retrato d’alma

 Retrato d’alma

Reconstruído a partir do poema “Retrato” – Cecília Meireles
By Amalri Nascimento – 26 de agosto de 2014.

Eu não tinha estes olhos vagos,
assim encobertos por véus de tristezas,
nem estes pulsos meio mórbidos,
nem no peito este poço de incertezas.



Eu não vivia estes sonhos sem vida,
tão inertes e lassos e mortos;
eu não tinha esta alma calada
que traz à boca sabor de lágrima.



Eu não dei por estes tempos,
assim naturais, assim certos, assim opressores:
- Em que pesadelos se perderam
os meus desejos?




Retrato

(Cecília Meireles)
 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

 

sábado, 11 de outubro de 2014

Tatuagem

Tatuagem

Trago gravestas
Entranhadas pelo corpo
Claustros de segredos desejos
Espectros meus
Guardados à reclusão

Tatuadas sobre a pele invisível
gavetas se entranham pelo meu corpo
quais claustros amorfos de segredos desejos...
Prisões de espectros meus
guardados à reclusão.

A fechadura chora o zinabre
da lágrima que o tempo oxida,
quais soluços nulos impedidos de ir à tona.
Fantasmas se esgueiram pela ferrugem
e deixam exalar cheiros lembranças...
Dos arcanos sibilam ecos mórbidos,
angústias doridas abrindo feridas...

O mordaz cilício penetra

seus agudos dentes na carne nua
e minh'alma sangra as dores
da saudade que queima
qual vento frio em açoite
pela noite escura.


By Amalri Nascimento.
16SET2014.

Imagens:
Esquerda acima: Autor desconhecido (carregada da Web);
Fundo: By Amalri Nascimento; e
Outras 4 imgaens: Obras do Surrealista "Salvador Dalí" (carregadas da Web).








sexta-feira, 3 de outubro de 2014

SINAL DE CHUVA

1º Lugar - Melhor Texto - Categoria Adulto
Concurso de Poesia da Casa do Marinheiro/RJ
"Prêmio Suboficial JOÃO ROBERTO SOBRAL - 2014"
AMALRI  NASCIMENTO

SINAL DE CHUVA

As primeiras notícias de chuva
Enlevam-me a terras distantes
E nesse êxtase envolto sinto as solas dos pés
Pisar o solo natal que se enfeita de natureza

Ao pé do mourão o umbigo brota
Aprofundando as raízes que se alimentam
Do cheiro da terra molhada
Sob a rega que se faz do orvalho serenado

As preces a São José
Atendidas em cânticos rogados
Semeiam esperanças novas
E o chão rachado bebe os primeiros pingos

A poeira calmamente se assenta
A vaca magra num esforço pela vida se levanta
E no vento que acaricia mais suave
Ecoa o pio d’uma rolinha afoita

O mandacaru esbanja majestade em flor
E seu verde não é mais solitário
N’algum galho de jurema da caatinga que se verdeja
Um ninho começa a ser trançado

Fotos: Vaca magra (acima - esqueda) e pingos d'água (abaixo - direita): capturadas Web; 
flor de mandacaru (acima - direita) , rolinhas no ninho (abaixo - esquerda) e flor sobre a terra molhada (fundo):
By Amalri Nascimento - Edição de imagens: Amalri Nascimento

sábado, 30 de agosto de 2014

Reminiscências


Reminiscências


Resquícios de sonhos idos
de um tempo
de nós dois
reverberam-se
em fragmentos do teto.

Sussurros,
gemidos e
segredos confidenciados
na intimidade cálida,
inda ecoam
dos arcanos do quarto
reminiscências pelo ar.

Mãos
que choram nostalgias
rasgando a pele
lençol onírico amorfo
d’alma inerte.

Charcos marejos
de olhos véus
em horizontes nus,
espelham arejo lenitivo
janela adentro
à lembrança que ficou.



Texto: By Amalri Nascimento
Imagens: Web
Manipulação de imagens: By Amalri Nascimento



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Espectros e Anjos


Espectros e Anjos


Há dias em que o arrebol
Desvanecendo-se do rubro deleitoso
Deixa-se tragar por uma noite de breu impenetrável
A sombra sorrateira desliza lentamente
E entra sem pedir licença

Liberto todos os espectros tristes
De um tártaro latente em mim
Aos pares carrancudos dançam impiedosos
Sobre o véu de melancolia que me cobre
Sob leitura de lábios mórbidos
Rogo que se rasgue e deixe a brisa entrar

Nesses dias
A poesia que brota fere e abre feridas
Entrego-me ao poeta que sou e entorpeço meus desejos
Sangro minh’alma em rimas doridas
Bebo as lágrimas e lavo os versos vorazes que me dou

Há dias em que a aurora
Dissipando a névoa gélido-rasteira
Faz cair o carrasco pálio da escuridão que oprime
A luz revigorante irrompe fugazmente
Entra sem pedir licença e impõe-se acalorada

Liberto todos os anjos felizes
De um paraíso latente em mim
Em estado de graça cantam e dançam faustos
Sobre os gritos de evoés de minha alegria
Sob embriaguez deleitosa que torna meus sentidos incautos
Rogo que as cortinas dos meus olhos não arriem

Nesses dias
A poesia que brota jorra qual água de olheiros límpidos
Entrego-me ao poeta que sou e devaneio em êxtases oníricos
Minh’alma esvai-se em rimas anestesia
Bebo os néctares de etéreas fantasias

Anjos guardem meus segredos*
Anjos levem meus desejos*   
     
                                                 (*Entre nós dois – Banda Malta)


Texto: By Amalri Nascimento
Imagens: Web
Manipulação de imagens: By Amalri Nascimento