quarta-feira, 18 de julho de 2012

Delírios e devaneios



 

Fotos: Amalri Nascimento

Poema: Amalri Nascimento

Menção Honrosa no Concurso Nacional de Poesia de Colatina/ES 2010/2011

"Prêmio Elisa Lucinda"



Delírios e devaneios


O controle remoto das minhas emoções
Zapea por entre dimensões de insights desconexos,
Delírios e devaneios diversos
Conduzem descargas emocionais por labirintos d’uma mente que delira...
Exclamações e indagações, interjeições e reticências
Confundem-se ou, simplesmente, se fundem!
Mas como saber curar ressacas
Sem antes ter se aventurado nas alucinações d’uma embriaguez?

Fecho os olhos e mergulho de cabeça
Na translucidez do impressionismo das telas de Monet,
Todavia, são nas horas surrealistas de Dali que me salvo.
Prostrado qual estátua de Rodin,
Perco-me em pensamentos
Viajando na insensatez dos pichadores que se dizem artistas
Para, então, reencontrar-me nas linhas que minha imaginação rabisca...

Ora sou a exclamação que indaga,
O ponto final reticências...
O pincel que mistura a água à massa colorida e aquarela a tela,
A espátula que cruza as tintas na paleta em busca do matiz perfeito
E de inspirações em cores alimenta e deleita...
Sou a batuta em riste na mão do regente
Cortando com furor o ar para inflamar a orquestra.

Atiro pedras em espelhos intentando
Afogar-me nas íris dos olhares enigmáticos refletidos em cada caco.
Prefiro sarcófago a tetos que me espreitem.
Destilo meus venenos para eu mesmo ser antídoto.
Embevecido pelas sensações que me tomam de assalto,
Entorpecendo ou embriagando minh’alma, vagueio e devaneio...
Sigo errante, delirantemente amante...



domingo, 1 de julho de 2012

ECO

Imagem: Ninfa ECO - Web
Poema: Amalri Nascimento - Selecionado dentre os melhores textos que comporão o livro do 12º Concurso de Poesias da Universidade Federal de São del-Rei (UFSJ).


Eco

Um anjo caído,
Numa noite calma,
Abordou-me de assalto.
Desnudo, somente a penumbra o cobria.
Afiado no verbo, salivou cuspindo-me poética...
De gingado fácil
Seduziu-me a seguir seus passos,
Germinando em mim fluídico interesse...
Mescla de prazer e êxtase!
Dançando ao som da flauta que trazia,
Cantarolava afinadas melodias,
Verborragia em estrofes que me aprazia...
Seus lábios quentes sopravam um hálito ardente
A transportar sussurros plenos de lascívia e arroubamento...
Embalando-me com sua música,
Conduzia-me suavemente.
Ao meu ouvido, com voz decidida,
Carregada de calmaria persuasiva,
Disse que me queria.
Súbita consciência despertou-me
Trazendo-me a tento,
Aspergindo a dúvida tal qual sangria:
Enviado de um Deus
Ou sátiro que se atrevia?
A noite fluía fria e a bruma envolvente
Exalava um ar de pura anestesia.
Sons alados ecoavam pelo ar, antes, silente.
Mais que entregues,
Dançávamos embevecidos por pura magia (!)
Porquanto suas palavras me possuíam.
Atados em apertos de braços,
As espáduas minhas,
Suadas e nuas exclamavam arrepios
Aos toques de mamilos intumescidos.
Os poros ventrais minavam suaves calafrios...
Não!
Não era anjo caído,
Tampouco sátiro atrevido,
Mas, Eco!
A ninfa castigada por intentar proteger amantes,
Deixando-os em segredo,
Transmutada, alada, em pelo.
Era doce vê-la entregar-se a que veio:
Invadir os meus idílios e,
No ato da sedução querente,
Encontrar neste peito de afeto latente,
Arcanos que ressoem poesia...
Pura inspiração em versos...