sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Retrato d’alma

 Retrato d’alma

Reconstruído a partir do poema “Retrato” – Cecília Meireles
By Amalri Nascimento – 26 de agosto de 2014.

Eu não tinha estes olhos vagos,
assim encobertos por véus de tristezas,
nem estes pulsos meio mórbidos,
nem no peito este poço de incertezas.



Eu não vivia estes sonhos sem vida,
tão inertes e lassos e mortos;
eu não tinha esta alma calada
que traz à boca sabor de lágrima.



Eu não dei por estes tempos,
assim naturais, assim certos, assim opressores:
- Em que pesadelos se perderam
os meus desejos?




Retrato

(Cecília Meireles)
 
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

 

sábado, 11 de outubro de 2014

Tatuagem

Tatuagem

Trago gravestas
Entranhadas pelo corpo
Claustros de segredos desejos
Espectros meus
Guardados à reclusão

Tatuadas sobre a pele invisível
gavetas se entranham pelo meu corpo
quais claustros amorfos de segredos desejos...
Prisões de espectros meus
guardados à reclusão.

A fechadura chora o zinabre
da lágrima que o tempo oxida,
quais soluços nulos impedidos de ir à tona.
Fantasmas se esgueiram pela ferrugem
e deixam exalar cheiros lembranças...
Dos arcanos sibilam ecos mórbidos,
angústias doridas abrindo feridas...

O mordaz cilício penetra

seus agudos dentes na carne nua
e minh'alma sangra as dores
da saudade que queima
qual vento frio em açoite
pela noite escura.


By Amalri Nascimento.
16SET2014.

Imagens:
Esquerda acima: Autor desconhecido (carregada da Web);
Fundo: By Amalri Nascimento; e
Outras 4 imgaens: Obras do Surrealista "Salvador Dalí" (carregadas da Web).








sexta-feira, 3 de outubro de 2014

SINAL DE CHUVA

1º Lugar - Melhor Texto - Categoria Adulto
Concurso de Poesia da Casa do Marinheiro/RJ
"Prêmio Suboficial JOÃO ROBERTO SOBRAL - 2014"
AMALRI  NASCIMENTO

SINAL DE CHUVA

As primeiras notícias de chuva
Enlevam-me a terras distantes
E nesse êxtase envolto sinto as solas dos pés
Pisar o solo natal que se enfeita de natureza

Ao pé do mourão o umbigo brota
Aprofundando as raízes que se alimentam
Do cheiro da terra molhada
Sob a rega que se faz do orvalho serenado

As preces a São José
Atendidas em cânticos rogados
Semeiam esperanças novas
E o chão rachado bebe os primeiros pingos

A poeira calmamente se assenta
A vaca magra num esforço pela vida se levanta
E no vento que acaricia mais suave
Ecoa o pio d’uma rolinha afoita

O mandacaru esbanja majestade em flor
E seu verde não é mais solitário
N’algum galho de jurema da caatinga que se verdeja
Um ninho começa a ser trançado

Fotos: Vaca magra (acima - esqueda) e pingos d'água (abaixo - direita): capturadas Web; 
flor de mandacaru (acima - direita) , rolinhas no ninho (abaixo - esquerda) e flor sobre a terra molhada (fundo):
By Amalri Nascimento - Edição de imagens: Amalri Nascimento