sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ausência


Ausência

Meus dentes cerrados
Mordem as cismas
De palavras que teimam
Alarem-se em pensamentos frouxos...
Levado por devaneios tortos
Vagueio por labirintos amorfos
Entorpecendo-me na letargia inerte
Atadora de sentimentos vãos...
A ansiedade qual zinabre oxidante
De superfícies expostas
Isola minh’alma aprisionando-me em casulos
De suplícios querentes...
A angústia qual ferrugem degradante
De superfícies submersas
Incrusta meu coração
Arritmando os movimentos
Em débeis ribombos de sôfrego sofrimento...
Embriagando-me dos aromas notívagos
Volitantes nos sopros da maresia
Que invadem o quarto
Silenciosamente e com pés de prata*
As sombras deslizam para dentro*
Intentando fazer-me enclaustro
As cores das coisas se esvanecem cansadamente*
Para enfim obscurecido o ambiente
Prostrarem-se nos arcanos da imensidão vazia
Que se faz a tua ausência

* Oscar Wilde / O Retrato de Dorian Gray (Romance, p. 126) / tradução de Oscar Mendes / Abril Cultural, 1981 (alterado o tempo verbal).







segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Entardecer nas pedras do Arpoador



Entardecer nas pedras do Arpoador

Horizonte nu
Tão longe
Que mãos não alcançam
Tão perto
Que corações se deleitam
Com o vermelhecer laivado de arrebóis

A noite esmaecendo o dia
Vestindo-o de sombras rasteiras
Sob firmamento iridescente
Alça lembranças
No sibilo de ventos cortantes
Até que se percam
No dardejar de olhares apaixonados...

Ocaso de crepúsculo espetacular
Bruxuleando réstias em leito manso
Vai e vem de ondas tranquilas
A espraiarem-se n’areia enquanto
"Vago na lua deserta das pedras do Arpoador”


(Texto e fotos: Amalri Nascimento)